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viernes, 30 de julio de 2021

DE VARELA GOMES A OTELO, VISTOS POR SUS HIJOS

João Varela Gomes, héroe del largo processo revolucionário em Portugal contra a ditadura salazarista, fue el comandante militar en el histórico asalto al Cuartel de Beja la noche del 31 de diciembre de 1961. Revuelta frustrada, impulsada por la esperanza de que el general Humberto Delgado se alzara con el poder, implantando el cambio democrático. Allí fue gravemente herido y, tras recuperarse,  sufrió una durísima represión, que se extendió a su familia, especialmente a su mujer, Maria Eugénia, mãe coragem do antifascismo, siempre activa en la lucha social. Falleció, a los 93 años de edad, el 26 de febrero de 2018, tras participar activamente en el desenvolvimiento de la Revolução dos Cravos, sufriendo persecución a consecuencia del 25 de Novembro de 1975, que acabó con el Processo Revolucionário em Curso, en que se impusieron los “militares moderados”. Hasta su muerte, mantuvo una actitud pública crítica, revolucionaria, criticando siempre “o espírito reaccionário e contra-revolucionario [que está a] dominar a mentalidade e a vida pública portuguesa” (de una carta suya publicada en el Semanário Expresso el 30 de abril de 1994).

Unos meses antes se habían iniciado las guerras coloniales en los enclaves africanos, cubriendo de sangre y dolor a las familias que perdían a sus jóvenes hijos en las selvas de Angola. De haber triunfado el Golpe de Beja, la hemorragia humana y económica, que durante 13 años arrasó Portugal y los propios territorios de Angola, Guiné y Moçambique, hubiera seguido otros derroteros, en los que no me caben dudas de que se habría impuesto el diálogo y la negociación que condujese inevitable y justamente a la independencia pactada.

Entresaco unos párrafos del impresionante recuerdo que tiene como autor a Paulo Varela Gomes (fallecido en 2016), hijo de este precursor de la Liberación Nacional del yugo la dictadura, João Varela Gomes:


Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja.

“Quando visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que, para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também, todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria necesariamente”.

Doce años más tarde, ya estaba madura la concienciación entre los jóvenes oficiales del Ejército, firmemente decididos a acabar con o estado a que chegámos, como diría el Capitão Salgueiro Maia cuando arengaba a sus tropas en el Cuartel de Caballería de Santarém, preparándolas para marchar hacia Lisboa y participar en la Operação Viragem Histórica, el derrumbe del Régimen dictatorial-colonialista de Salazar/Caetano, el 25 de Abril de 1974.

Ahora, 47 años y tres meses después, el 25 de julio de 2021, ha fallecido, con 84 de edad, Otelo Saraiva de Carvalho, estratega, diseñador y director de las operaciones victoriosas de la Revolução dos Cravos, personaje militar esencial en el proceso revolucionario de 1974-1975, así como activista político defensor de la democracia directa y la acción de masas en toda su trayectoria posterior.

Al igual que en el caso anterior, el hijo de Otelo, Sérgio Bruno A. Carvalho, ha escrito -y pronunciado- unas sentidas palabras en la ceremonia de despedida:


Colocaram-lhe aos ombros as maiores responsabilidades do País, às quais procurou corresponder até ao esgotamento. Cometeu erros? Claro, só não os comete quem nada faz. Estava preparado? Não, ele próprio sempre se disse um militar, um estratega, não um político. Teve atuação política: claro, com as responsabilidades que tinha seria possível não ter atuação política, numa aprendizagem forçada! Quis ter as responsabilidades que teve? Nunca, pelo contrário, estavam sempre a colocar-lhe mais carga em cima porque ele decidia, ouvia, todos recorriam ao COPCON porque era onde as decisões eram tomadas.

E foi este servidor da Pátria que esteve por 2 vezes e mais de 5 anos na prisão. A primeira vez que o visitei em Santarém, tinha eu 10 anos, não compreendia como o meu Herói, que para mim fazia sempre tudo certo, o Pai favorito de todos os meus amigos, estava atrás das grades; e tinha lá ido parar por decisão dos seus camaradas, que no íntimo sabiam que ele nada tinha feito de errado.

5ª feira passada falávamos sobre o processo das FP-25 [Fuerzas Populares Veinticinco de Abril, que dejó varias víctimas mortales en el país] e perguntei-lhe: "Lembras-te de que eu próprio tive de te perguntar na prisão de Tomar, olhos nos olhos, de Pai para Filho, se tinhas tido algum envolvimento? Com tudo o que se dizia nos jornais e TVs, a dúvida instalou-se em mim, teu filho... E na altura até me respondeste algo zangado que NUNCA, até parecia que não o conhecia!"

Não falarei do processo, dos “arrependidos”, do acórdão do Tribunal Constitucional que se pronuncia pela inconstitucionalidade do processo, pondo em causa o seu valor jurídico e abrindo a porta à sua nulidade, pela sequente e sempre rejeitada amnistia, e pela absolvição a 6 de Abril de 2001. Talvez um dia os cobardes que se aproveitaram dele e da sua imagem, nomeadamente para serem amnistiados sejam “homenzinhos” e digam a verdade.

Si una muerte es siempre triste, lo resulta aún más cuando su trayectoria de valor y afán por implantar la democracia, la justicia, no tiene la recompensa del justo reconocimiento de los dirigentes políticos, e incluso de algunos de sus compañeros e individuos, destilando a veces ingratitud, incomprensión, difamación y odio. A ambos les ocurrió en vida; a los dos se les complicó el futuro tras su primera actuación contundentemente decisiva. Y murieron sin el reconocimiento oficial debido, porque en el fondo sus figuras molestaban y porque una parte significativa de la sociedad y sus representantes no asimilaron su lucha solidaria, siendo barrera suficiente para tomar la decisión de no rendirles el homenaje merecido. Homenaje que en las palabras de sus hijos adquieren un gigantesco y emotivo significado.

Moisés Cayetano Rosado

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