DE VARELA GOMES A OTELO, VISTOS POR SUS HIJOS
João Varela Gomes, héroe del largo processo
revolucionário em Portugal contra a
ditadura salazarista, fue el comandante militar en el histórico asalto al Cuartel de Beja la noche del 31
de diciembre de 1961. Revuelta frustrada, impulsada por la esperanza de que
el general Humberto Delgado se alzara con el poder, implantando el cambio
democrático. Allí fue gravemente herido y, tras recuperarse, sufrió
una durísima represión, que se extendió a su familia, especialmente a su mujer,
Maria Eugénia, mãe coragem do
antifascismo, siempre activa en la lucha social. Falleció,
a los 93 años de edad, el 26 de febrero de 2018, tras participar activamente en el
desenvolvimiento de la Revolução dos
Cravos, sufriendo persecución a consecuencia del 25 de Novembro de 1975, que acabó con el Processo Revolucionário em Curso, en que se impusieron los “militares moderados”. Hasta su muerte, mantuvo una
actitud pública crítica, revolucionaria, criticando siempre
“o espírito reaccionário e contra-revolucionario [que está a] dominar a mentalidade e a vida
pública portuguesa” (de una carta suya publicada en el Semanário Expresso
el 30 de abril de 1994).
Unos
meses antes se habían iniciado las guerras coloniales en los enclaves africanos,
cubriendo de sangre y dolor a las familias que perdían a sus jóvenes hijos en
las selvas de Angola. De haber triunfado
el Golpe de Beja, la hemorragia humana y económica, que durante 13 años arrasó
Portugal y los propios territorios de Angola, Guiné y Moçambique, hubiera
seguido otros derroteros, en los que no me caben dudas de que se habría
impuesto el diálogo y la negociación que condujese inevitable y justamente a la
independencia pactada.
Entresaco
unos párrafos del impresionante recuerdo
que tiene como autor a Paulo Varela Gomes (fallecido en 2016), hijo de este precursor de la
Liberación Nacional del yugo la dictadura, João Varela Gomes:
Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja.
“Quando
visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram
muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os
familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que,
para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos
sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal
muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram
danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é
mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também,
todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e
sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a
vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria
necesariamente”.
Doce
años más tarde, ya estaba madura la concienciación entre los jóvenes oficiales
del Ejército, firmemente decididos a acabar con o estado a que chegámos, como diría el
Capitão Salgueiro Maia cuando arengaba a sus tropas en el Cuartel de Caballería
de Santarém, preparándolas para marchar hacia Lisboa y participar en la Operação Viragem Histórica, el derrumbe del Régimen dictatorial-colonialista
de Salazar/Caetano, el 25 de Abril de 1974.
Ahora,
47 años y tres meses después, el 25 de julio de 2021, ha fallecido, con 84 de
edad, Otelo Saraiva de Carvalho, estratega, diseñador y director de las
operaciones victoriosas de la Revolução dos Cravos, personaje militar
esencial en el proceso revolucionario de 1974-1975, así como activista político
defensor de la democracia directa y la acción de masas en toda su trayectoria
posterior.
Al igual que en el
caso anterior, el hijo de Otelo, Sérgio
Bruno A. Carvalho, ha escrito -y pronunciado- unas sentidas palabras en la
ceremonia de despedida:
Colocaram-lhe aos ombros as maiores responsabilidades do País, às quais procurou corresponder até ao esgotamento. Cometeu erros? Claro, só não os comete quem nada faz. Estava preparado? Não, ele próprio sempre se disse um militar, um estratega, não um político. Teve atuação política: claro, com as responsabilidades que tinha seria possível não ter atuação política, numa aprendizagem forçada! Quis ter as responsabilidades que teve? Nunca, pelo contrário, estavam sempre a colocar-lhe mais carga em cima porque ele decidia, ouvia, todos recorriam ao COPCON porque era onde as decisões eram tomadas.
E foi este servidor da Pátria que
esteve por 2 vezes e mais de 5 anos na prisão. A primeira vez que o visitei em
Santarém, tinha eu 10 anos, não compreendia como o meu Herói, que para mim
fazia sempre tudo certo, o Pai favorito de todos os meus amigos, estava atrás
das grades; e tinha lá ido parar por decisão dos seus camaradas, que no íntimo
sabiam que ele nada tinha feito de errado.
5ª feira passada falávamos sobre
o processo das FP-25
[Fuerzas Populares Veinticinco de Abril,
que dejó varias víctimas mortales en el país] e perguntei-lhe:
"Lembras-te de que eu próprio tive de te perguntar na prisão de Tomar,
olhos nos olhos, de Pai para Filho, se tinhas tido algum envolvimento? Com tudo
o que se dizia nos jornais e TVs, a dúvida instalou-se em mim, teu filho... E
na altura até me respondeste algo zangado que NUNCA, até parecia que não o
conhecia!"
Não falarei do processo, dos
“arrependidos”, do acórdão do Tribunal Constitucional que se pronuncia pela
inconstitucionalidade do processo, pondo em causa o seu valor jurídico e
abrindo a porta à sua nulidade, pela sequente e sempre rejeitada amnistia, e
pela absolvição a 6 de Abril de 2001. Talvez um dia os cobardes que se
aproveitaram dele e da sua imagem, nomeadamente para serem amnistiados sejam “homenzinhos”
e digam a verdade.
Si una muerte es siempre
triste, lo resulta aún más cuando su trayectoria de valor y afán por implantar
la democracia, la justicia, no tiene la recompensa del justo reconocimiento de
los dirigentes políticos, e incluso de algunos de sus compañeros e individuos,
destilando a veces ingratitud, incomprensión, difamación y odio. A ambos les ocurrió en vida; a los dos se
les complicó el futuro tras su primera actuación contundentemente decisiva.
Y murieron sin el reconocimiento oficial debido, porque en el fondo sus figuras
molestaban y porque una parte significativa de la sociedad y sus representantes
no asimilaron su lucha solidaria, siendo barrera suficiente para tomar la
decisión de no rendirles el homenaje merecido. Homenaje que en las palabras de sus hijos adquieren un
gigantesco y emotivo significado.
Moisés Cayetano Rosado