INTERVENÇÃO DO COMPANHEIRO ANDRADE DA SILVA NA
APRESENTAÇÃO DO LIVRO “O MEU 25 DE ABRIL” EM VILA NOVA DE GAIA
Capitães de Vila Nova de Gaia
Grande saudação a todos vós, grande saudação
ao capitão Cerqueira e a todos os que trabalham nas associações e autarquias
que são, no cumprimento das suas funções para o povo e com o povo, uma
expressão real do 25 de Abril em Portugal, na Península Ibérica, na Europa, e
cremos que no mundo.
Onde há guerras na Ucrânia, em Gaza, e
ditaduras, que tanta fa
lta faz uma diplomacia militar que leve a todos a
mensagem militar de Salgueiro Maia de que é preciso desobedecer quando a
máquina militar, em vez de ser usada na legitima defesa, é usada como uma força
opressora e aqui as forças armadas devem dizer não à guerra, e lembrar aos
poderes políticos que para determinadas soluções como em Gaza com forças do
tipo Hamas deve haver uma solução política, porque o Hamas não sendo um
exército regular não pode ser derrotado com armas.
A solução política deve ter a primazia em
todos os capítulos, porque como no caso da Ucrânia, uma vitória militar
custará, como já está a custar, mortos, emigração para milhares de pessoas e
uma destruição incalculável.
Portanto, esta é uma mensagem inicial da ASM
com a autoridade moral, civilizacional e da inteligência, porque nós estivemos
na guerra, e somos também construtores da paz.
Como o Abril que celebramos foi vitória vimos
a parte da celebração da vitória no vídeo que apresentámos. E agora através da
obra “O meu 25 de Abril” acompanhamos alguns percursos de antes do 25 de Abril.
Percursos de pessoas simples, de concidadãos como nós, o que, para uns será
memória e memória é vida, logo, um bem, e para outros conhecer aquelas
realidades para se saber que os caminhos são difíceis, mas há objectivos
atingíveis, e também é importante conhecer a história para reconhecer o valor
deste presente que é o nosso aqui e agora, bem melhor do que o passado
salazarista por todas as razões: umas mais esperadas do que outras, como a
evolução científica, técnica, etc, e outra, a maior, a mais bela, a liberdade
de se exprimir, a liberdade de construir o futuro, a liberdade política,
cultural e sexual nem sempre esperada. De facto, a liberdade é o maior bem que
Abril nos trouxe, mas a liberdade é uma construção diária e, por vezes, há
areias movediças e outros truques que nos enganam, dizendo que são liberdade
,mas são destruição da liberdade.
Esta luta entre liberdade e opressão, amor e
ódio, paz e guerra, é milenar, logo, muito, muito difícil de alterar, mas
pode-se alterar como foi com a revolução do 25 de Abril de 1974 que sucumbiu
depressa.
No 25 de Novembro de 1975 não houve nenhuma
vitória de Abril, nem da humanidade, simplesmente houve uma reorganização para
que a revolução terminasse, e se volvesse a uma determinada normalidade que nos
trouxe, no nosso caso, para o círculo do poder que não se distingue pelas
melhores e mais determinantes qualidades de Abril. As qualidades de Abril
são:
- A liberdade
- A democracia
- O desenvolvimento,
no sentido de atingirmos um estado de equidade, de dignidade e qualidade de
vida digno, honestidade e ética
- A dignidade – o
termos a capacidade de, desde o nascimento até à hora da partida final,
vivermos, conforme a nossa natureza humana e de inteligência.
Mas para chegarmos a este 25 de Abril
percorremos um caminho muito difícil de 48 anos com prisões, fome, guerra,
emigração forçada, mortes, tortura, etc.
Deste caminho percorrido 40 concidadãos
portugueses e espanhóis dão notícia nesta obra “O meu 25 de Abril”. Cada
um fala, diz o que viveu e sentiu. É uma obra deste ponto de vista,
majestosa, e também foi quanto ao esforço extraordinário para a produzir e
editar, e destes grandes capitães –somos todos capitães – destaco os nossos
companheiros Vitor Pássaro e Fernando Frederico, o acto muito nobre e
inigualável da edição desta obra do nosso companheiro espanhol Moisés Cayetano
Rosado, um grande capitão com um perfil à Salgueiro Maia e também à Vasco da
Gama e Cervantes, um viajante que não pára.
A obra – 40 cidadãos, uns militares que
estiveram na guerra em África e no 25 de Abril e de cidadãos e cidadãs civis
que viveram os tempos anteriores como a nossa companheira Célia em muitas lutas
,e uma jovem alentejana no 25 de Abril com 13 anos, que vivia em Montemor-o-Novo
e fala do horror, que disparava ao ouvir-se falar que estava por ali a GNR. De
facto no Alentejo as populações estavam sujeitas à ditadura fascista e dos
latifundiários o que tornava ali a vida muito difícil, porque para sobreviver
era preciso trabalhar as terras dos outros por salários baixos, e sempre sob a
ameaça dos tiros e dos cassetetes das policias se não concordassem, para além
das idas á guerra e das prisões pelos pides a qualquer hora.
Também se dá noticia do que eram as
dificuldades na guerra, das mortes e dos feridos e das operações militares
muito complicadas, como foram aquelas na Guiné, onde, Salgueiro Maia esteve
envolvido, tendo de regressar à guerra depois de já ter terminado o cumprimento
da sua missão, os dois anos de guerra. Depois voltar ao combate é muito, muito
difícil ,e só um grande capitão poderia manter a coesão e a disciplina para
evitar desastres ou deserções , o que, estava fora do radar da quase
totalidade dos militares oficiais e sargentos do quadro permanente.
Como Salgueiro Maia é visto por um seu
subordinado Amadeu Romão – homem simples que transmitia confiança, com uma
estatura moral evidenciada.
A guerra em África, as cenas dolorosas, mas
também a camaradagem e a confraternização. Os dramas dos chamados cacimbados,
militares com problemas psicológicos e/ou psiquiátricos não identificados.
As relações amistosas e positivas com as
populações negras. Pessoalmente fui professor e até servi de ajudante de
enfermeiro para ajudar a meter partes das tripas de um homem atingido por uma
bacaça. Ainda vejo a tripa com cor rósea, grandes balões e mal cheirosa. Lá
metemos a tripa dentro do abdómen e a vitima assistida na Damba/Angola é depois
evacuada para Carmona. Não sei depois mais nada.
Fala António Pinão do comportamento da
rapaziada da União dos Estudantes Comunistas do seu liceu com quem
clandestinamente colaborava desde 1972. Este companheiro é um homem muito
vigoroso e apaixonado pelo 25 de Abril de 1974 e por toda a sua gesta.
Dá testemunho Carlos Arinto, um escritor com
uma obra sobre a guerra, onde, também dá notícia sobre mim que fui seu
instrutor na Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas, instrução rigorosa
para poupar vidas e cumprir este objectivo – uma glória maior! Diz e bem, todos
queríamos regressar da guerra. Nós, os oficiais seus comandantes, ouvimos este
grito e em nome de todos, e por todos, fizemos o 25 de Abril.
Para pôr termo ao cortejo de dor e terror de
10 mil mortos, 50 mil feridos nos contingentes continentais e falam de 100 mil
entre os negros africanos.
O depoimento do nosso companheiro Maia
Loureiro, o alferes, que junto de Salgueiro Maia, logo, no 25 de Abril de 1974
foi o primeiro a fazer o V da vitória, e teve uma conversa crucial, humana,
responsável, quando Salgueiro Maia se dirige para fazer frente ao Brigadeiro
Junqueira dos Reis, comandante dos carros de combate do regime que queriam
travar o movimento da história, para o que o Sr. Brigadeiro deu ordem ao
alferes Sottomayor para fazer fogo contra Salgueiro Maia, que recusou – e ,aqui,
como diz o filósofo João Gil faltou o cordeiro pascal, o sangue derramado de
Salgueiro Maia, se tivesse acontecido tudo seria muito diferente, como ???
Claro, não se sabe.
O então jovem Diogo Serra dá noticia do seu
trabalho na editorial “A Rabeca”, das oposições em Portalegre.
Também dou testemunho da nossa gloriosa saída
às 03H00 do dia 25 de Abril 74 da gloriosa Escola Prática de Artilharia de
Vendas Novas, e das múltiplas e gloriosas acções em que estivemos envolvidos
até chegarmos ao Cristo-Rei para batermos e afundarmos qualquer navio de guerra
que quisesse travar o nosso feito.
Ninguém se atreveu graças ao trabalho antes
feito ,e nós agimos, como juventude capitã, nesta ida de Vendas Novas para o
Cristo-Rei também vem connosco o furriel Vitor Pássaro que regressará comigo a
quartéis, e depois há-de estar no terreno até ao 25 de Novembro de 1975.
Um depoimento do nosso camarada Cardoso de
Sousa, então, alferes na guerra e no teatro de operações na Guiné. Sujeito a
vários bombardeamentos sem consequências , coisas inesperadas não morremos
porreiro ! Os poderosos ataques aos nossos aviões com misseis terra-ar que nos
roubam a supremacia aérea com graves consequências militares para as nossas
forças, com menos capacidade de sermos defendidos, ou evacuados no caso de
acidentes, logo, algo de muito assustador. E temperaturas de 50º.
O drama do isolamento e o louvor por poder
relembrar a sua história nesta obra. Bem-haja !
Ouvimos Fernando Frederico a sua vida difícil,
as memórias da 1ª. guerra que envia a outros. Um jovem leitor. Operário aos 20
anos. Vai para o norte de Angola, quando regressa ingressa no quadro permanente
de oficiais. Uma vida rica de combates e vitórias.
Fernando Pinto o aluno que é acordado pelo 25
de Abril, virá a ser (é) professor para falar de Abril. O Serviço Cívico em 75
e 76 experiências marcantes.
Helena Biscaia, uma heroína de Setúbal e
poeta.
Leonardo Antão oficial do Q.P. mas, então,
aluno da Academia Militar do curso de engenharia. A Academia Militar foi um
palco de grandes acontecimentos bastante esquecidos. …..coisas.
O nosso companheiro Manuel Augusto Silva que
esteve no Largo do Carmo ao lado de Salgueiro Maia comandando a Chaimite Bula
que transportou Marcelo Caetano para o Posto de Comando da Pontinha.
O depoimento de um nortenho de sete costados
de Vieira do Minho, Manuel Pinto da Costa.
Mariano Garcia um capitão com larga história
de vida, fala-nos.
Vários capitães lutadores e poetas dão o seu
testemunho: Helena Biscaia, Marília Gonçalves, poeta popular vivendo em França,
Suzel Patrão.
Também de terras longínquas da Suécia
recebemos o depoimento do nosso companheiro Serafim Pinheiro, um homem central
na história de Abril e da Revolução, mas muito humilde, e que muito tem para
dizer. A ver se conseguimos.
Os nossos poetas com os seus poemas, entre
eles José Carvalho, que já partiu.
Também Francisco Batista fala do seu pai
João Batista, a quem tanto a ASM deve. Nunca o esqueceremos.
E o editor da obra Moisés Cayetano Rosado um
biógrafo de Salgueiro Maia, um dos maiores capitães de Abril ….somos todos
capitães….. pelo seu amor, dedicação, alma e coração de Abril, a quem se deve a
publicação desta magnifica obra –uns Lusíadas- a quarenta almas sobre o
25 de Abril. Um viva forte a Moisés Cayetano Rosado, à editora da revista “O
Pelourinho” e da câmara de Badajoz pela publicação desta obra, que é de todos e
universal.
A intervenção crucial da companheira Natércia
Salgueiro Maia representando a ansiedade da mulher que tinha o seu pai, marido,
filho , namorado, amigo ou irmão na guerra- uma ansiedade incomensurável
, e, ainda no seu caso o aguentar o que pudesse resultar desta venturosa aventura
do 25 abril 74
O verbo da ainda jovem Raquel Cedra e dos nossos
companheiros espanhóis, entre outros.
Todos, sem excepção, estão representados.
Eia o 25 de Abril na sua mais vera verdade .
Salgueiro Maia Presente
Portugal o Universo Presentes
João Andrade da Silva