SFSEM FRONTEIRAS
1
DE NOVEMBRO DE 2022
Campo Maior acolhe apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado sobre
Salgueiro Maia
SALGUERIO MAIA, DAS GUERRAS EM ÁFRICA À REVOLUÇÃO DOS CRAVOS
Moisés
Cayetano Rosado regressa ao contacto dos leitores com a segunda edição do livro
que publicou sobre Salgueiro Maia. Revista e aumentada a obra passou a integrar
o catálogo do Plano Nacional de Leitura. Marcelo Rebelo de Sousa assina o
prefácio e o posfácio é da lavra de Vasco Lourenço e de João Andrade da Silva.
O livro vai ser apresentado por Luis Silveirinha no próximo dia 5 de novembro no CIFA – Centro de Interpretação da Fortificação Abuluartada de Campo Maior com a presença do autor.
Para
uma melhor compreensão dos objetivos e dos conteúdos do livro, Moisés Cayetano
Rosado fornece um conjunto de elementos de elevada utilidade que permitem ao
leitor antecipar o contacto com a publicação.
INTENCIONALIDADE.
A Edições Colibri publica o livro Salgueiro
Maia. Das Guerras em África à Revolução dos Cravos, enquanto que a Fundação
Caja Badajoz o faz com o título: Salgueiro Maia. De las Guerra en
África a la Revoluãó dos Cravos y su evolución posterior, livro no qual trabalhei
intensamente ao longo de 2020 e início de 2021, mas que tem como pano de fundo
as minhas pesquisas sobre a “Revolução dos Cravos”, os seus antecedentes nas
Guerras Coloniais de África e o desenvolvimento depois da Revolução, com as
suas luzes e sombras.
Comecei
a investigar há mais de duas décadas, entrevistando militares e civis
envolvidos nos acontecimentos e pesquisando nos mais variados arquivos.
Realizei pesquisas na vasta biblioteca dos principais jornais e em revistas,
bem como no abundante acervo académico, memorial e bibliografia de ensaio.
Queria
focar o estudo num personagem extraordinário. Alguém que foi um protagonista
crucial do levantamento militar e das ações de 25 de abril, que esteve
claramente envolvido nas terríveis lutas coloniais, que tivesse participado no tempestuoso
processo de confrontos entre civis e militares em 1975, bem como a sua
posterior evolução: Fernando Salgueiro Maia.
Este
jovem militar tinha 29 anos quando chefiou a coluna que de Santarém se dirigiu
a Lisboa na madrugada de 25 de abril e exemplarmente superou obstáculos até à
rendição de Marcelo Caetano no Quartel da GNR. Falecido prematuramente, com
apenas 47 anos, teve tempo de sofrer a decepção pela ingratidão dos seus
superiores hierárquicos e o esquecimento dos políticos que, graças a jovens
soldados como ele, subiram ao poder da Nação.
No verão de 2022 este meu livro foi incluído no Plano
Nacional de Leitura de Portugal.
EIXOS FUNDAMENTAIS.
São três os eixos fundamentais deste trabalho
– Descrição do confronto bélico em Portugal de 1961 a
1974 antes da revolta dos movimentos de independência de Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique. Participação
do Capitão Salgueiro Maia (alentejano nascido em Castelo de Vide a 1 de julho
de 1944) nos cenários de Moçambique e da Guiné, onde -em meio ao sofrimento das
tropas, emboscadas, mutilações, mortes e hostilidade ambiental- chega à
consideração final que está “do lado errado da história”, visto que o processo
de “retenção colonizadora” não faz sentido no momento histórico mundial de
descolonização que foi vivido.
– Desenvolvimento de 25 de Abril de 1974, dia do golpe
militar coordenado por jovens capitães contra a ditadura fascista e
colonialista que se
arrastou por meio século em Portugal. Salgueiro Maia comandou a coluna que de
Santarém se dirigiu a Lisboa para derrubar o Governo, correspondendo ao papel
histórico de subjugar as poderosas forças governamentais na Praça do Comerço,
com uma coragem e domínio sóbrios; prender o ditador Marcelo Caetano no Quartel
da GNR, executando-o com temperança, coragem e exemplaridade, depois de ter
conseguido colocar a seu lado as forças que, enviadas pelo Governo para
reprimi-lo, encontrou em outras partes da capital; facilitar o trabalho no
Quartel do Carmo do General Spínola, que chegou para assumir o comando de
Caetano, e ordenar a retirada das tropas sem nenhum revés.
– Os eventos subsecuentes da Revolução e,
especialmente, a renovação democrática, que não fará justiça a este
corajoso militar (como aconteceria com os jovens militares mais proeminentes
que lideraram o golpe). Polêmico para alguns seriam suas atuações no golpe
spinolista de “11 de março de 1975” e os confrontos de “25 de novembro de 1975”
(como havia sido antes do “Golpe de Caldas de 16 de março de 1974”), mas que
documental e testemunhalmente podemos demonstrar que eles estavam corretos.
Salgueiro
Maia morreria no dia 4 de abril de 1992, após uma dolorosa enfermidade,
desencantado com a evolução do processo e do tratamento recebido, o que o
“aproxima” da frase que Simón Bolívar pronunciaria em 1830: “Quien sirve a la
revolución ara en el mar”. Salgueiro Maia escreveu que gostaria que “Grândola,
Vila Morena” fosse cantada no seu funeral, tendo confessado ao também “Capitão
de Abril” Vasco Lourenço que assim o desejou porque figuras relevantes da
política e dos militares compareceriam ao seu funeral, quem seriam forçados a
cantá-lo ou pelo menos ter que ouvir-lo.
PROCESSO DE GUERRA E
REVOLUCIONÁRIO.
Neste
trabalho, procuro alternar a análise, comentário e reflexão
crítica dos fatos,
remontando ao final da Segunda Guerra Mundial e a posição das nações vitoriosas
em relação ao colonialismo e seu necessário fim, para posteriormente descrever
as agruras dos cenários de guerra, bem como os sacrifícios, massacres e mortes
de ambos os lados do confronto. Aí, destacando o papel de sensibilização que
adquirem os jovens oficiais, entre os quais se destaca o capitão alentejano de
vinte e poucos anos na sua primeira missão africana.
Concentro-me
nas lutas que decorreram entre 1961 e 1974 na Guiné,
Angola e Moçambique,
passando daí para o aprofundamento do desconforto dos capitães à frente dos
seus soldados e suboficiais maltratados em plena selva, cheias de “minas
antipessoal”, que causam numerosas e traumatizantes baixas. A partir daí,
passei a analisar as reuniões destes militares em 1973 e nos primeiros meses de
1974 para realizar uma contundente ação contra o Governo (incluindo contactos
com civis, especialmente no e após o “III Congresso da Oposição Democrática” de
Aveiro de 4 a 8 de abril de 1973), levando à “Revolução do 25 de Abril de
1974”.
É
emocionante ver como nesse dia de tensão, emoção e triunfo, os soldados são
massivamente abraçados pelo povo, que os anima de forma eufórica, sendo a
“cabeça visível” daqueles soldados na Baixa de Lisboa e na Praça do Carmo o
Capitão Salgueiro Maia, cujas ações são detalhadas no livro.
Então
virá um processo convulsivo, revolucionário por um lado,
contra-revolucionário por outro, e nesses altos e baixos os mais ativos “Militares de
Abril” não se sairá bem, em meio à inveja e ao medo de sua liderança. Assim,
Salgueiro Maia será afastado de cargos operacionais e relegado a funções
burocráticas e de “escritório”, o que pouco lhe atraiu, por ser um homem de
ação. Sua morte prematura, de câncer, aos 47 anos, corta uma vida admirável.
Refleti
também sobre o processo de nacionalização dos meios de produção, a reforma
agrária e a importante Constituição de 1976, que nos anos seguintes sofrerá uma
involução, rompendo com as esperanças depositadas durante o PREC (Processo
Revolucionário em Curso), como a unidade dos protagonistas militares e civis da
oposição à ditadura.
GESTAÇÃO DO LIVRO
A ideia de escrever este livro foi motivada pelo
pedido que o Presidente da Fundação Caja Badajoz, Emilio Vázquez, me fez numa
visita conjunta a Castelo de Vide, há pouco mais de um ano, e na qual falei com
ele e um pequeno grupo de companheiros (em visita organizada pela Fundação) do
corajoso militar. Com esta anedota, precisamente, começa o livro: em frente do
túmulo de Castelo de Vide; aí é também encenado o final da publicação, em
homenagem ao “Capitão de Abril”.
A edição portuguesa – em tradução do “Capitão de
Abril” Carlos de Almada Contreiras- (simultaneamente a referida Fundação publicou-a
na sua colecção de “Personagens Singulares”) é o resultado do entusiasmo com
que o director das Edições Colibri, Fernando Mão de Ferro, recebeu o
“manuscrito inicial”. Conseguiu que o prólogo fosse
publicado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. E que a edição traz a marca da
editora juntamente com as importantes “Associação 25 de Abril”, que acolhe 90%
dos militares vivos que participaram da Revolução (cujo presidente, coronel Vasco
Lourenço, faz o posfácio), e “Associação Salgueiro Maia” (também seu
presidente, coronel Andrade da Silva, faz um posfácio), para além do apoio da Câmaras
Municipais de Santarém (onde Salgueiro Maia estava destinado e de onde saiu
para efectuar o Golpe Militar) e de Castelo de Vide (onde nasceu e está
sepultado).
Conta ainda com um importante contributo fotográfico, em grande parte doado pelas
duas associações nomeadas, pelo Coronel Vaso Lourenço e pela própria viúva do
Salgueiro Maia, Natércia Maia. Alguns versos do poeta Manuel Alegre, de grande
ressonância literária e política, também foram doados por seu autor para serem
incluídos na publicação.
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