miércoles, 2 de noviembre de 2022

 

SFSEM FRONTEIRAS

1 DE NOVEMBRO DE 2022


Campo Maior acolhe apresentação do livro de Moisés Cayetano Rosado sobre Salgueiro Maia

SALGUERIO MAIA, DAS GUERRAS EM ÁFRICA À REVOLUÇÃO DOS CRAVOS


Moisés Cayetano Rosado regressa ao contacto dos leitores com a segunda edição do livro que publicou sobre Salgueiro Maia. Revista e aumentada a obra passou a integrar o catálogo do Plano Nacional de Leitura. Marcelo Rebelo de Sousa assina o prefácio e o posfácio é da lavra de Vasco Lourenço e de João Andrade da Silva.

O livro vai ser apresentado por Luis Silveirinha no próximo dia 5 de novembro no CIFA – Centro de Interpretação da Fortificação Abuluartada de Campo Maior com a presença do autor.

Para uma melhor compreensão dos objetivos e dos conteúdos do livro, Moisés Cayetano Rosado fornece um conjunto de elementos de elevada utilidade que permitem ao leitor antecipar o contacto com a publicação.

INTENCIONALIDADE.

A Edições Colibri publica o livro Salgueiro Maia. Das Guerras em África à Revolução dos Cravos, enquanto que a Fundação Caja Badajoz o faz com o título: Salgueiro Maia. De las Guerra en África a la Revoluãó dos Cravos y su evolución posterior, livro no qual trabalhei intensamente ao longo de 2020 e início de 2021, mas que tem como pano de fundo as minhas pesquisas sobre a “Revolução dos Cravos”, os seus antecedentes nas Guerras Coloniais de África e o desenvolvimento depois da Revolução, com as suas luzes e sombras.

Comecei a investigar há mais de duas décadas, entrevistando militares e civis envolvidos nos acontecimentos e pesquisando nos mais variados arquivos. Realizei pesquisas na vasta biblioteca dos principais jornais e em revistas, bem como no abundante acervo académico, memorial e bibliografia de ensaio.

Queria focar o estudo num personagem extraordinário. Alguém que foi um protagonista crucial do levantamento militar e das ações de 25 de abril, que esteve claramente envolvido nas terríveis lutas coloniais, que tivesse participado no tempestuoso processo de confrontos entre civis e militares em 1975, bem como a sua posterior evolução: Fernando Salgueiro Maia.

Este jovem militar tinha 29 anos quando chefiou a coluna que de Santarém se dirigiu a Lisboa na madrugada de 25 de abril e exemplarmente superou obstáculos até à rendição de Marcelo Caetano no Quartel da GNR. Falecido prematuramente, com apenas 47 anos, teve tempo de sofrer a decepção pela ingratidão dos seus superiores hierárquicos e o esquecimento dos políticos que, graças a jovens soldados como ele, subiram ao poder da Nação.

No verão de 2022 este meu livro foi incluído no Plano Nacional de Leitura de Portugal.


EIXOS FUNDAMENTAIS.

São três os eixos fundamentais deste trabalho

– Descrição do confronto bélico em Portugal de 1961 a 1974 antes da revolta dos movimentos de independência de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Participação do Capitão Salgueiro Maia (alentejano nascido em Castelo de Vide a 1 de julho de 1944) nos cenários de Moçambique e da Guiné, onde -em meio ao sofrimento das tropas, emboscadas, mutilações, mortes e hostilidade ambiental- chega à consideração final que está “do lado errado da história”, visto que o processo de “retenção colonizadora” não faz sentido no momento histórico mundial de descolonização que foi vivido.

– Desenvolvimento de 25 de Abril de 1974, dia do golpe militar coordenado por jovens capitães contra a ditadura fascista e colonialista que se arrastou por meio século em Portugal. Salgueiro Maia comandou a coluna que de Santarém se dirigiu a Lisboa para derrubar o Governo, correspondendo ao papel histórico de subjugar as poderosas forças governamentais na Praça do Comerço, com uma coragem e domínio sóbrios; prender o ditador Marcelo Caetano no Quartel da GNR, executando-o com temperança, coragem e exemplaridade, depois de ter conseguido colocar a seu lado as forças que, enviadas pelo Governo para reprimi-lo, encontrou em outras partes da capital; facilitar o trabalho no Quartel do Carmo do General Spínola, que chegou para assumir o comando de Caetano, e ordenar a retirada das tropas sem nenhum revés.

– Os eventos subsecuentes da Revolução e, especialmente, a renovação democrática, que não fará justiça a este corajoso militar (como aconteceria com os jovens militares mais proeminentes que lideraram o golpe). Polêmico para alguns seriam suas atuações no golpe spinolista de “11 de março de 1975” e os confrontos de “25 de novembro de 1975” (como havia sido antes do “Golpe de Caldas de 16 de março de 1974”), mas que documental e testemunhalmente podemos demonstrar que eles estavam corretos.

Salgueiro Maia morreria no dia 4 de abril de 1992, após uma dolorosa enfermidade, desencantado com a evolução do processo e do tratamento recebido, o que o “aproxima” da frase que Simón Bolívar pronunciaria em 1830: “Quien sirve a la revolución ara en el mar”. Salgueiro Maia escreveu que gostaria que “Grândola, Vila Morena” fosse cantada no seu funeral, tendo confessado ao também “Capitão de Abril” Vasco Lourenço que assim o desejou porque figuras relevantes da política e dos militares compareceriam ao seu funeral, quem seriam forçados a cantá-lo ou pelo menos ter que ouvir-lo.



PROCESSO DE GUERRA E REVOLUCIONÁRIO.

Neste trabalho, procuro alternar a análise, comentário e reflexão crítica dos fatos, remontando ao final da Segunda Guerra Mundial e a posição das nações vitoriosas em relação ao colonialismo e seu necessário fim, para posteriormente descrever as agruras dos cenários de guerra, bem como os sacrifícios, massacres e mortes de ambos os lados do confronto. Aí, destacando o papel de sensibilização que adquirem os jovens oficiais, entre os quais se destaca o capitão alentejano de vinte e poucos anos na sua primeira missão africana.

Concentro-me nas lutas que decorreram entre 1961 e 1974 na Guiné, Angola e Moçambique, passando daí para o aprofundamento do desconforto dos capitães à frente dos seus soldados e suboficiais maltratados em plena selva, cheias de “minas antipessoal”, que causam numerosas e traumatizantes baixas. A partir daí, passei a analisar as reuniões destes militares em 1973 e nos primeiros meses de 1974 para realizar uma contundente ação contra o Governo (incluindo contactos com civis, especialmente no e após o “III Congresso da Oposição Democrática” de Aveiro de 4 a 8 de abril de 1973), levando à “Revolução do 25 de Abril de 1974”.

É emocionante ver como nesse dia de tensão, emoção e triunfo, os soldados são massivamente abraçados pelo povo, que os anima de forma eufórica, sendo a “cabeça visível” daqueles soldados na Baixa de Lisboa e na Praça do Carmo o Capitão Salgueiro Maia, cujas ações são detalhadas no livro.

Então virá um processo convulsivo, revolucionário por um lado, contra-revolucionário por outro, e nesses altos e baixos os mais ativos “Militares de Abril” não se sairá bem, em meio à inveja e ao medo de sua liderança. Assim, Salgueiro Maia será afastado de cargos operacionais e relegado a funções burocráticas e de “escritório”, o que pouco lhe atraiu, por ser um homem de ação. Sua morte prematura, de câncer, aos 47 anos, corta uma vida admirável.

Refleti também sobre o processo de nacionalização dos meios de produção, a reforma agrária e a importante Constituição de 1976, que nos anos seguintes sofrerá uma involução, rompendo com as esperanças depositadas durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso), como a unidade dos protagonistas militares e civis da oposição à ditadura.

GESTAÇÃO DO LIVRO

A ideia de escrever este livro foi motivada pelo pedido que o Presidente da Fundação Caja Badajoz, Emilio Vázquez, me fez numa visita conjunta a Castelo de Vide, há pouco mais de um ano, e na qual falei com ele e um pequeno grupo de companheiros (em visita organizada pela Fundação) do corajoso militar. Com esta anedota, precisamente, começa o livro: em frente do túmulo de Castelo de Vide; aí é também encenado o final da publicação, em homenagem ao “Capitão de Abril”.

A edição portuguesa – em tradução do “Capitão de Abril” Carlos de Almada Contreiras- (simultaneamente a referida Fundação publicou-a na sua colecção de “Personagens Singulares”) é o resultado do entusiasmo com que o director das Edições Colibri, Fernando Mão de Ferro, recebeu o “manuscrito inicial”. Conseguiu que o prólogo fosse publicado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. E que a edição traz a marca da editora juntamente com as importantes “Associação 25 de Abril”, que acolhe 90% dos militares vivos que participaram da Revolução (cujo presidente, coronel Vasco Lourenço, faz o posfácio),  e “Associação Salgueiro Maia” (também seu presidente, coronel Andrade da Silva, faz um posfácio), para além do apoio da Câmaras Municipais de Santarém (onde Salgueiro Maia estava destinado e de onde saiu para efectuar o Golpe Militar) e de Castelo de Vide (onde nasceu e está sepultado).

Conta ainda com um importante contributo fotográfico, em grande parte doado pelas duas associações nomeadas, pelo Coronel Vaso Lourenço e pela própria viúva do Salgueiro Maia, Natércia Maia. Alguns versos do poeta Manuel Alegre, de grande ressonância literária e política, também foram doados por seu autor para serem incluídos na publicação.



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