jueves, 2 de enero de 2014

CINCUENTA Y DOS AÑOS DEL GOLPE DE BEJA
Moisés Cayetano Rosado
Cuando estaba estudiando la Revolução dos Cravos para el libro que escribimos mi hijo Moisés y yo (publicado por la Fundación de Investigaciones Marxistas en 1999 bajo el título de Abril 25: el sueño domesticado),  me encontré con este texto del coronel Varela Gomes, publicado por la Revista Expresso el 30 de abril de 1994: Com pouco se contentam, en 20 anos, esses façanhudos socialistas de 74/75. Pessoalmente estão saciados. Tachos não faltaram. Viver à custa do Orçamento é uma alegría. No fundo era a única revolução que lhes interessava.
Este héroe de la Revolução, fue el comandante militar en el histórico asalto al Cuartel de Beja en la noche del 31 de diciembre al 1 de enero de 1962, contra la dictadura salazarista, donde fue gravemente herido y tras el que sufrió una durísima represión. Y el 25 de noviembre de 1975 -rehabilitado en el proceso revolucionario-, al frente de la 5ª División encabezó el intento de evitar el giro reaccionario que se estaba tomando en el país, teniendo que exiliarse tras el nuevo revés sufrido en su lucha por mantener las conquistas populares que se perdían.
Su compañero y entrañable amigo (con cuya amistad también me precio) el Capitão de Abril, coronel Manuel Durán Clemente, glosó su figura en un texto magnífico, que está en su muro de facebook: https://www.facebook.com/manuel.d.clemente?fref=ts y que he compartido en el mío: https://www.facebook.com/moises.cayetanorosado
Del muro de Durán Clemente obtengo también el siguiente emotivo testimonio que reproduzco aquí por completo, y que es un documento extraordinario para acercarnos al sufrimiento de los más vulnerables: los pequeños, los hijos de los que lucharon y luchan por un mundo mejor. Sirva como reconocimiento y homenaje a este hombre ejemplar en el 52 aniversario de aquel intento de derribar la dictadura que tanto dolor causó en el pueblo portugués:
Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja na madrugada daquele dia 1. A minha mãe estava presa. Voltou para casa um ano e meio depois. Ele, ao fim de seis anos. Lembro-me: a minha mãe, a quem não deixaram abraçar os filhos pequenos, encharcando com lágrimas os punhos cerrados de fúria com que agarrava as grades do parlatório de Caxias. O nosso terror. O meu pai, numa cela da Penitenciária de Lisboa, entubado, magríssimo, a voz quase apagada, um fantasma desvanecido contra a luz da janela, aquele homem que eu recordava grande, alegre, garboso na sua farda. Desapareceu de vez a infatigável alegria do meu irmão, um miúdo palrador e de olhos cheios de luz. Ganhou dificuldades de fala e endureceu. Nunca mais encontrou a paz. Por mim, fui adolescente a querer ser homem sem ter para isso pai. Não foi fácil e não se tornou menos difícil depois. As minhas irmãs, eu sei lá, nunca falamos disso. A família juntou-se para nos acolher e ajudar, houve amigos que estiveram à altura da ocasião, mas vivíamos com alguma dificuldade. Quando a minha mãe foi libertada, tinha perdido a profissão que a PIDE a impediu de retomar. Arranjou os empregos possíveis. Dormia pouquíssimo, trabalhava loucamente e aguentou tudo. Só perdeu a juventude e a saúde.
Quando visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que, para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também, todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria necesariamente.
(Texto de Paulo Varela Gomes, hijo de João Varela Gomes. Publicado en http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com.es/2014/01/e-bom-nao-esquecer.html?spref=fb

A luta continua!, dicen los incansables activistas portugueses que aún no han perdido la ilusión y siguen acariciando la utopía. En Varela Gomes tienen un referente difícilmente superable. Él supo ver cómo otros aprovecharon las conquistas para vivir a costa de ellas, lo que denunció en el texto que referencio al principio.

En este año en que se conmemora el 40 aniversario de Abril, muchos serán los que “saquen pecho” atribuyéndose una actuación revolucionaria de la que en esencia lo que han hecho es aprovecharse, capitalizando para sí el sacrificio de los auténticos protagonistas, a la mayoría de los cuales lograron postergar.

No hay comentarios:

Publicar un comentario