jueves, 19 de septiembre de 2024

 25 DE ABRIL, 11 DE MARÇO E 25 DE NOVEMBRO

Quero dar brevemente a minha opinião relativamente à celebração do 25 de Novembro de 1974, muito reivindicado agora pelos partidos portugueses e sectores mais à direita, quando em  2025 comemora-se os 50 anos do confronto político-militar interno:

- Enquanto o 25 de Abril de 1974 foi um movimento militar vitorioso contra a ditadura, o colonialismo, as terríveis guerras coloniais que sangravam a juventude portuguesa e arruinavam a economia nacional, mergulhando o povo na miséria, o 25 de Novembro de 1975 foi um confronto entre diferentes concepções do social, militar e o desenvolvimento económico da nação, redireccionando a situação de um modelo revolucionário popular para um modelo social-democrata ocidental.

- Enquanto o 25 de Abril conduziu a uma gloriosa comunhão Povo-MFA, o 25 de Novembro significou uma ruptura entre aqueles que tornaram possível o triunfo anterior.

- Enquanto o 25 de Abril conta com o consenso das forças democráticas que perdura até hoje (e é mesmo actualmente criticado pelos grupos mais reaccionários da política nacional), o 25 de Novembro tem o desejo ardente da direita e da extrema-direita de o equiparar ao primeiro .

Mesmo os militares moderados foram marginalizados nos seus destinos e carreiras pelos mais complacentes.

Recordo que Salgueiro Maia já indicara nas suas memórias, escrevendo 10 anos depois do 25 de Abril (disponível em o livro Capitão de Abril. Edit. Âncora Editores, 3ª edic., 2014. Pág. 117):

Criticar os muitos que pagam o idealismo e a generosidade dos Capitães de Abril como o mesmo comportamento que caracterizou o regime nascido em 28 de Maio:

- a corrução;

- a incompetência;

- o compadrio;

- o circo do Poder.

E o General Pezarat Correia, também militar moderado, que foi durante o período mais poderoso da Reforma Agrária (Verão de 1975) Governador Militar da região do Alentejo, escreveu na Revista “Vértice” em 1990 (depois reproduzido em seu livro Questionar Abril, de 1994 (Edit. Circulo de Leitores, pág. 118): Tal como os seus companheiros civis da generação de sessenta que hoje, na sociedade portuguesa, militam nas fileiras da oposição, enquanto os tecnocratas que passaram aqueles anos escladantes sem se chamuscarem povoam os corredores do poder, também os “capitães de Abril” vêm sendo progressivamente marginalizados na instituição militar, quando não mesmo perseguidos e ofendidos, pagando um preço elevado por terem ousado questionar e abalar as estructuras dominantes.

De outro lado, porque é que há esta insistência em celebrar o 25 de Novembro de uma forma comparável ao 25 de Abril e porque é que ninguém reivindica a celebração do 11 de Março de 1975 como uma data gloriosa em que foi abatida uma tentativa de involução golpista liderada pelo general Spínola (e pelo seu homem de confiança, comandante Alpoim Galvão), de quem Salgueiro Maia diz que fiquei com a impressão de que quem comandava era o comandante Alpoim Galvão (escrito nas suas memórias publicadas no Capitão de Abril, pág. 112)?

Salgueiro Maia opôs-se a esse Golpe de Estado, chegando mesmo a censurar directamente Spínola por isso, escrevendo no Capitão de Abril (págs. 112-113): Falámos com o General Spínola, a quem esclareci que a situação era insustentável. Fiquei com a impressão de que o general Spínola estava desconhecedor de muitas informações.

E Spínola fugiu de helicóptero para Espanha, aterrando na base aérea militar de Talavera la Real (Badajoz), de onde se exilou! Aliás, Salgueiro Maia esteve envolvido num mal-entendido da extrema-esquerda, que o acusou de ser spinolista, promovendo uma campanha contra “o fascista Salgueiro Maia” que culmina com um cerco à minha casa, escreve ele próprio ( Capitão de Abril. Pág. 113).

Creio que se desejam comemorar o 50º aniversário do 25 de Novembro de 1975, mais motivo há para comemorar o 50º aniversário do 11 de Março de 1975.

 

Moisés Cayetano Rosado

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