lunes, 13 de enero de 2020


HA MUERTO ANTÓNIO GERVASIO, LUCHADOR EJEMPLAR.
Como recordatorio al gran hombre íntegro, honrado, valiente, comprometido, luchador que ha sido António Gervasio hasta su muerte el 10 de enero de 2020, quiero traer aquí unas páginas de nuestra Revista Transfronteriza O PELOURINHO, donde António Gervasio da testimonio de las torturas a que fue sometido por la PIDE en la larga dictadura salazarista portuguesa. Este líder de la Reforma Agraria portuguesa, campesino y político, gran orador y meticuloso recopilador de la memoria Histórica Obrera, es un ejemplo para todas las generaciones. Descanse en Paz.



INTERVENÇÃO DE JERÓNIMO DE SOUSA, SECRETÁRIO GERAL DO pcp.  FUNERAL DE ANTÓNIO GERVÁSIO
«O melhor tributo que podemos prestar a António Gervásio é o de estarmos à altura da sua dedicação à causa revolucionária do seu Partido»
Camaradas, amigos:
Com profunda mágoa e tristeza, estamos aqui para nos despedirmos do camarada António Gervásio, um homem de grande coragem e uma vida de incansável lutador, inteiramente consagrada aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, à luta contra a ditadura fascista e pela liberdade, à nossa Revolução libertadora de Abril e à defesa das suas conquistas, ao ideal e ao projecto comunista.
Neste triste e comovido último adeus ao camarada António Gervásio, aqui queremos mais uma vez dirigir à sua família, à sua mulher Maria Lourença Cabecinha, sua companheira de sempre, filha desta terra, funcionária do Partido na clandestinidade, prisioneira antifascista, mulher de coragem a quem o nosso Partido muito deve pela sua longa trajectória de militância comunista, ao seu filho, à sua neta e a todos os que por ele sentiam laços de afecto mais próximos e fortes, a mais sentida solidariedade do nosso Partido e do seu colectivo partidário para com a sua dor e sofrimento.
Nascido em S. Mateus, Nossa Senhora da Vila, no concelho de Montemor-o-Novo, nesta terra de grandes tradições revolucionárias, António Gervásio era um operário agrícola que cedo conheceu a exploração e dureza da luta pelo pão e a liberdade. Aderiu ao PCP em 1945, aos 18 anos, para entregar toda uma vida de dedicação à causa da emancipação dos trabalhadores e do povo e da luta por uma sociedade nova liberta da exploração.
Aqui, nesta terra e concelho, começou por participar e dirigir várias lutas, por melhores jornas e contra o desemprego.
Aos 27 anos, António Gervásio, mergulhou na clandestinidade como funcionário do Partido, para realizar tarefas de Norte a Sul do País. Assim foi antes e depois do 25 de Abril, tendo sido um dirigente destacado do PCP durante muitos anos.
Foi membro do seu Comité Central de 1963 a 2004 e da sua Comissão Executiva entre 1966 e 67. Membro da Comissão Política do Comité Central de 1976 a 1990 e da Comissão Central do Controlo entre 1996 e o ano 2 000.
São enormes e dignas de ser sempre recordadas como exemplo, as provas de coragem e firmeza revolucionária de que António Gervásio deu mostras em muitos momentos da sua vida de intrépido combatente em defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e perante os torcionários da PIDE.
Preso três vezes durante o período da ditadura fascista de Salazar e Caetano, em 1947, 1960 e 1971, passou, no conjunto, cinco anos e meio nas prisões do Aljube, de Caxias e Peniche.
Não cumprindo a totalidade das penas a que foi condenado. Do Forte de Caxias evadiu-se, em 1961, na célebre e audaciosa fuga no carro blindado de Salazar com outros dirigentes comunistas, para retomar de imediato o seu posto de combate e a luta do seu Partido e do nosso povo contra a ditadura fascista.
Na prisão de 1971 havia sido condenado a 14 anos de cadeia e a “medidas de segurança”. Estava na prisão do Forte de Peniche quando irrompe a Revolução de Abril. Será um dos presos libertados na madrugada de 27 com a intervenção do destacamento militar, comandado pelo Capitão Machado Santos, também falecido nesta última sexta-feira e perante quem nos inclinamos também, honrando a sua memória neste dia de tristeza e dor para todos nós.
Nas prisões de 1960 e 1971, António Gervásio foi brutalmente torturado e espancado. Na prisão de 1971 foi impedido de dormir durante 18 dias e 18 noites. A tudo resiste e a nada renunciou, como homem de carácter e firmes convicções comunistas.
No seu julgamento na Boa Hora, em Maio de 1961, é espancado em pleno tribunal, por denunciar as torturas da PIDE.
Percorrendo o País de lés a lés, o dirigente revolucionário António Gervásio, deu uma valiosa contribuição para erguer e afirmar o PCP como um grande partido nacional. Fê-lo com a sua reconhecida tenacidade e modéstia desinteressada na realização das múltiplas tarefas que o Partido lhe confiou.
Aqui, nos campos do Sul, foi um participante directo e incansável em todo o processo da Reforma Agrária, esse grande sonho de gerações e gerações de proletários agrícolas, que se tornou momentaneamente realidade com a Revolução de Abril, sob a consigna “a terra a quem a trabalha”, com a constituição de Unidades Colectivas de Produção, visando a liquidação do latifúndio que tanta miséria semeou nestes campos de Montemor-o-Novo e no Alentejo.
Aqui, nestas terras do Alentejo, tinha já muito antes desempenhado um relevante papel na organização e condução de pequenas e grandes lutas, nomeadamente nas históricas greves de Maio de 1962 que levaram à conquista das 8 horas pelos trabalhadores dos campos do Alentejo e Ribatejo.
António Gervásio desempenhou não apenas importantes funções partidárias, mas também importantes funções institucionais.
Após o 25 de Abril foi deputado à Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição da República Portuguesa, cujo conteúdo progressista e valores que ainda consagra constituem referência para a construção de uma política que assegure um Portugal mais justo e desenvolvido. Foi igualmente eleito, em 1979, deputado à Assembleia da República e integrou durante vários mandatos a Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo.
Neste momento de despedida, valorizamos os valiosos testemunhos que nos deixa da sua rica experiência de vida e de luta, nomeadamente o seu mais recente livro, «Histórias da Clandestinidade», contribuindo para a preservação da memória do que foi o fascismo e de como o PCP enfrentou a repressão e se constituiu como o partido da classe operária e de todos os trabalhadores, e a força dirigente da oposição antifascista.
O camarada António Gervásio deixou de estar entre nós, mas o seu percurso de vida, o seu exemplo de militante e dirigente do PCP perdurará em todos e em cada um de nós para prosseguirmos a luta de emancipação social que o animou.
O melhor tributo que podemos prestar a António Gervásio é o de estarmos à altura da sua dedicação à causa revolucionária do seu Partido, da sua vontade de honrar os compromissos de vida e de luta e da sua inquebrantável determinação e vontade de fazer sempre mais e melhor para servir a causa justa do seu Partido, com tudo o que ele comporta de aspiração, sonho e projecto por um mundo melhor.
Até sempre, camarada!

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