POESIA DE MOISÉS CAYETANO ROSADO
Hoje
vamos falar de um livro escrito por um poeta argonauta – Moisés Cayetano
Rosado. Dedicamos este espaço onde falamos do livro, enquanto instrumento
substantivo da cultura, e de livros – novidades e não – livros de
que tenhamos gostado. E gostámos muito de ler os poemas de Segunda Vuelta*, uma
colectânea que reúne poemas
que Moisés Cayetano escreveu entre 1968 e 2008. Poemas cuja leitura nos trouxe
â memória as discussões que, sobretudo nos anos sessenta, se travavam em torno
de uma dicotomia entre forma e conteúdo. A polémica vinha de trás, do
pós-guerra, quando neo-realistas e presencistas se tinham digladiado. Ficou
particularmente famosa a discussão entre José Régio e Ál varo Cunhal a
propósito da obra de Jorge Amado – como já disse noutro lugar, tratava-se de um
diálogo de surdos: Régio apoiavaa-se em argumentos literários, estéticos;
Cunhal partia de pressupostos sociológicos e políticos – nenhum tinha razão,
ambos tinham razão.
Pois em Segunda Vuelta (como
acontece em toda a boa poesia) esse conflito não existe – o poeta diz da sua
revolta, da sua esperança, sem nunca abandonar o território da poesia Diz o
autor na nota com que encerra o livro: «Esta Segunda Vuelta resume cuarenta
años de sueños, ilusiones, apasionado testemonio, desalientos, recaídas y
algunas alegrías, amores, esperanzas. Ningún otro libro más querido, ninguno
más esencial – a mi parecer – de todos cuantos he escrito, de tanto como he
escrito en cualquier modalidad en que lo hiciera.»
E este
livro tem um encanto especial para os portugueses, particularmente para aqueles
que nasceram a tempo de sofrer a amargura da noite da repressão e de assistir à
luminosa alvorada de Abril – Moisés Cayetano, nos seus poemas de Siempre Abril (uma
das partes em que o livro está organizado), reflecte o seu conhecimento
profundo da realidade portuguesa; aliás, na primeira metade daqueles anos 70,
muito semelhante à que se vivia em Espanha. Mas a madrugada de Abril em breve
anoitecia – como sempre acontece, a esperança transformou-se em desespero, a
luz em escuridão… até que a luz e a esperança renasçam.
Num
poema da quarta parte (Amanecer), os últimos versos resumem esta
permanente luta entre a luz e as trevas, que é, afinal, o resumo da história da
humanidade. E de cada ser humano: Siempre
amanece un hilo de esperanza/em medio de lo torvo y lo siniestro,/en medio de
la dura desazón. /Y salimos nosotros,/una vez y otra más, y más… rozando el
infinito,/ recuperados/de cada tropiezo de la vida.
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*Uma publicação
da Editora Regional de Extremadura com o apoio da Junta de Extremadura
(Colección Vincapervinca, Badajoz, 2009).
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P.D.: Pueden descargar el libro en los Archivos adjuntos de este blog, documento nº: 21
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